Segundo Rabinowitz (1981), uma espécie geralmente é considerada rara quando seus representantes estão confinados a uma pequena área (área de ocorrência restrita), quando ocorrem sob condições específicas (área de ocupação restrita) e/ou quando são escassos ao longo de sua distribuição (baixa densidade).
A maior parte das espécies brasileiras carecem de informações atualizadas sobre suas realidades ecológicas. Diante da atual lacuna no conhecimento da flora brasileira, a área de ocorrência é o critério mais objetivo para se classificar uma espécie como rara com base em materiais de herbário, na literatura e na experiência dos especialistas. (Giulietti et al. 2009)
Existe, em média, uma espécie rara de angiosperma para cada 3.730 km² do território brasileiro (1:3.730). Obviamente, elas não estão homogeneamente distribuídas — muito pelo contrário.
O Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina (IFFSC) constatou a redução da biodiversidade de espécies arbóreas quando comparou com dados da Flora Ilustrada Catarinense levantados há 50 anos. Redução é tão drástica que 32% de todas as espécies arbóreas e arbustivas foram encontradas com menos de 10 indivíduos no estado, ou seja, 87 espécies. Porém, para outras sinúsias de plantas muito menos conhecidas, como herbáceas e epífitas, existe um abismo de conhecimento, tornando impossível essa estimativa (Gasper et al. 2018).
Sobre espécies endêmicas de Santa Catarina, é correto afirmar que pela área relativamente pequena de cerca de 95 mil km² (IBGE 2022), se não todas, praticamente todas as espécies endêmicas de seu território são raras, uma vez que para uma espécie ser considerada rara, deve ter área de distribuição total igual ou inferior a 50 mil km² (Bibby 1992). Em matéria de espécies endêmicas do estado, apenas 15 das 224 espécies são árvores, ou seja, cerca de 6,7% das espécies (Flora do Brasil 2020), sendo que a grande maioria destas está concentrada em alguns pontos específicos do estado, sendo a mais rica, a região da Serra Geral (Hassemer et al. 2015). Algumas destas são citadas em listas oficiais de espécies ameaçadas, contudo a grande maioria nunca foi avaliada quanto ao seu status de ameaça, ou existe tão pouca informação disponível que estas são classificadas muitas vezes como “Dados Deficientes” de acordo com a IUCN (2012, 2019), o que não garante proteção legal alguma à espécie.
Baseado nas evidências acima mencionadas, é possível notar alguns padrões como:
(1) perda acentuada de habitat e de biodiversidade, de acordo com os dados do IFFSC;
(2) um elevado número de espécies possivelmente raras e ameaçadas de extinção no estado de Santa Catarina;
(3) uma grande lacuna de conhecimento acerca da biodiversidade;
(4) uma quase total ausência de políticas para conservação destas espécies e de ações que visem à conservação das mesmas.
Desta forma, uma maneira de mitigar os riscos de extinção dessas espécies é realizar estudos sobre estas ainda praticamente desconhecidas espécies, a fim de identificar populações, entender sua biologia e definir as áreas prioritárias para sua conservação. Dada a situação de perda de habitats naturais que vivenciamos no estado, uma forma de garantir a sobrevivência das espécies mais raras e ameaçadas é o cultivo ex situ, uma vez que assim garante-se a sobrevivência de indivíduos que podem ser multiplicados e reintroduzidos na natureza, caso haja o entendimento que esta intervenção seja necessária.
Proporcionar condições de conservação de espécies vegetais raras e ameaçadas, possibilitando a garantia de sobrevivência e manutenção gênica de algumas populações.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Para além das informações objetivas, o projeto busca se diferenciar pela proposta que conta com um repertório de atividades recreativas e pedagógicas, que proporcionarão para estas crianças e adolescentes momentos de trocas, partilhas e estabelecimento de laços afetivos/construtivos com colegas, colaboradores e principalmente com a própria natureza. É nesse universo de asas, cores e cantos que vemos uma possibilidade de conciliar conservação ambiental e vivências gratificantes/expressivas para estas crianças e adolescentes que se encontram em vulnerabilidade social.
O projeto contemplará inicialmente três espécies de hábito herbáceo, duas delas com registro de ocorrência natural no município de Rio do Sul e uma com registro de ocorrência natural no município de Petrolândia, tendo registros de cultivo em Rio do Sul. Todas essas espécies já possuem dados atualizados e populações encontradas recentemente.
Espécimes das espécies consideradas raras e ameaçadas serão identificados e monitorados, com o objetivo de obtenção de sementes ou estruturas vegetativas passíveis de propagação.
Plantas herbáceas (priorizando a variabilidade genética com coletas de diferentes áreas) comporão uma coleção alocada na casa de vegetação do Horto Florestal Universitário, com a finalidade de facilitar a obtenção de sementes e outras estruturas para a posterior propagação.
Com a produção de mudas dos espécimes cultivados no Horto Florestal Universitário, a forma de reintrodução das diferentes espécies será adequada à autoecologia de cada uma delas e acontecerá de três formas.
1- Reintrodução ex situ — cultivo de um grupo representativo de plantas de uma espécie, fora do ambiente natural e em condições ecológicas distintas, mas que poderá futuramente produzir propágulos para o enriquecimento in situ ou inter situ das populações em ambientes naturais. Normalmente, as coleções ex situ são mantidas em jardins botânicos ou outros locais artificiais. No entanto, é desejável que mesmo uma coleção ex situ, cultivada em substratos e recipientes artificiais, possa estar próxima de populações naturais e que, eventualmente, ocorram probabilidades de fluxos gênicos via pólen e/ou sementes.
2- Reintrodução inter situ — formação de uma população nova em local com características ambientais e microclimáticas semelhantes aos originais. De preferência, sugere-se que esta nova população seja a mais próxima possível dos originais de forma a poder propiciar novos fluxos gênicos, permitindo um processo evolutivo tanto para as populações originais como para a formada.
3- Reintrodução in situ — as mudas produzidas artificialmente serão implantadas na própria área de ocorrência da espécie e nas mesmas condições microclimáticas e ambientais de adaptação natural da espécie. Esta reintrodução corresponde a uma implementação da Conservação in situ, quando a espécie sofreu impactos naturais ou antrópicos e necessita atingir novamente a densidade populacional anteriormente registrada.